Blog dos alunos destinado ao livre debate de idéias e temas diversos entre os alunos, ex-alunos, funcionários, professores e colaboradores da FUCAPE Business School.











domingo, 16 de maio de 2010

Voltando aos assuntos econômicos...

Sempre escuto duas teses que alguns acreditam serem verdadeiras:

1- A elevação dos juros serve apenas para atender aos interesses dos grandes bancos, que lucram com os juros altos.

2- O câmbio valorizado prejudica as nossas exportações, principalmente de manufaturados.

Será que os dados confirmam estas teses?

Abaixo estão os gráficos do câmbio e das exportações de manufaturados, desde 2003. Curioso, é que mesmo com a valorização do real, as exportações de manufaturados não diminuíram (exceto durante a crise, mas já foram retomadas).




E aqui estão os gráficos do lucro do Bradesco e do Banco do Brasil contrastado com a Selic. Podemos observar a queda da Selic desde 2003 e, curiosamente, mesmo com a queda dos juros, o lucro dos bancos só cresceram (o gráfico dos outros bancos também mostram a mesma tendência) .

Ou seja, criticar o regime de metas de inflação com base neste argumento não é muito consistente.








11 comentários:

Anônimo disse...

Os dados dos lucros são reais ou nominais?

Acho que o ideal seria rodar uma correlação entre a variação do lucro real com a variação da SELIC.

Quanto aos manufaturados, qual definição foi usada?

Mas interessante o questionamento levantado!

Rogerio Ferreira disse...

Eu queria ter pego o dado dos lucros direto no Economática e deflacionar, mas preferi postar de uma vez usando o gráfico do Guiainvest. Os lucros são nominais então.

E os manufaturados, obtive os dados no Ipeadata na série de "Valor FOB das exportações por classe de produto: produtos manufaturados".

E o cambio é a taxa para exportação.

Anônimo disse...

Salvo engano, os gráficos entre exportações e taxa de câmbio estão inversamente proporcionais.. Quanto mais desvalorizado o câmbio, mais exportações..

Ricardo disse...

Não, anônimo,

A taxa de câmbio no Brasil é dada por R$/US$. Se o câmbio valoriza, portanto, o índice tem de cair. Já se o câmbio desvaloriza, o índice tem de subir.

A linha azul caindo representaria valorização cambial e não o contrário.

Rogerio Ferreira disse...

Os gráficos ficaram horríveis para uma postagem de estréia.

Mas é isto mesmo, a linha azul mostra a valorização do câmbio, ou seja, cada vez precisamos gastar menos reais para comprar um dolar.

Mas no mesmo período em que o real se valoriza, as exportações aumentaram, e este gráfico trata apenas dos manufaturados.

Mas os dois maiores exportadores do mundo tem trajetórias cambiais bem distintas.

A Alemanha é uma grande exportadora, mesmo com uma moeda valorizada. E a China é também uma grande exportadora, mas possui um câmbio bem desvalorizado (mas menos hoje que no passado).

Pepe Netto disse...

Dizer que varios setores da exportação de manufaturados não perdem competitividade, e que uma taxa de juros elevada nao favorece o lucro dos bancos é ir contra aos fatos e à lógica.

Deve-se lembrar que a economia brasileira vem em ritmo de crescimento acelerado nos ultimos anos, com exceção do periodo de crise, portanto é de se esperar que haja um crescimento tanto na industria de manufaturados, quanto no lucro dos bancos.
E isso acontece devido a diversos fatores alem das relações com o cambio e com a taxa selic.

No caso das exportações podemos citar as seguitnes causas para o aumento: boom econômico mundial (até 2008), estabilidade macroeconômica do Brasil, melhorias no campo da burocracia ligada ao comercio exterior, diversos acordos feitos em missões comerciais do governo, inclusive para países de destino não tradicionais da exportação brasileira, e por último ao aperfeiçoamento e expansão dos mecanismos de crédito brasileiros.
Por outro lado, temos como aspectos negativos constantes justamente a concorrencia desleal de países com câmbio desvalorizados como a China, e que desoneram integralmente produtos de exportação concorrentes dos brasileiros. E agora tambem as consequências da crise.

Acredito que hoje em dia não se critica, na maioria das vezes, o regime de metas de inflação, e sim o tipo de medidas tomadas para o controle da estabilidade da moeda.
O aumento da taxa de juros vem como um remédio para um mal incerto, cuja garantia é a de indesejáveis efeitos colaterais.

Rogerio Ferreira disse...

Opa!

ir contra os fatos ou lógica?

Os fatos mostram que o câmbio apreciado não impediu o crescimento da exportações. Poderia até ser argumentado se com um câmbio mais depreciado elevaria ainda mais o crescimento das exportações, mas elas cresceram "apesar" do câmbio. Os fatos comprovam isto.

E quanto à lógica, as exportações podem aumentar, mesmo com câmbio apreciado, basta não termos concorrentes no mercado em questão ou sermos mais eficientes.

E sobre a Selic, o mesmo raciocínio. Os fatos mostram que o lucro do setor bancário se elevou mesmo com a queda da Selic. E quanto à lógica disto, basta olhar a velocidade de queda do spread bancário comparado à queda da Selic e a alta concentração do setor bancário.

E sobre a inflação, ela está aí, basta ver os principais índices de preço.

Então não é algo tão incerto assim. Que ela é um mal, isto é com certeza, basta ver os efeitos nocivos que ela trouxe ao crescimento e planejamento econômico, bem como à distribuição de renda.

Numa economia em que o gasto público representa uma fatia crescente do PIB, a regra de formação de juros de poupança e os empréstimos subsidiados pelo BNDES mantém a Selic num patamar bem superior ao que ela poderia estar para causar o mesmo efeito sobre a inflação.

Com uma dinâmica desta, juros altos, câmbio apreciado e baixa poupança interna são resultados mais do que esperados.


Mas a questão central é o tamanho e a atuação do Estado. A redução do gasto público permitiria uma redução dos juros, depreciação do câmbio e elevação do nível do investimento.

O centro do debate não é se o câmbio apreciado afeta ou não as exportações, mas como alterar a trajetória do câmbio

Pepe Netto disse...

Claro, mas vamos relembrar o post inicial. Voce colocou graficos com o objetivo de negar as teses de que os bancos lucram com o aumento da taxa selic, e que o câmbio valorizado prejudica as exportações.

Mas o ponto e que, mostrar que as exportações aumentaram mesmo com o câmbio sendo apreciado nao é negar a tese de que tal medida as prejudica, porque, como exemplifiquei em minha resposta, elas dependem de diversos fatores. Ou seja, com o real menos valorizado essas exportações cresceriam ainda mais, pois o produto brasileiro seria mais competitivo nos mercados em que houvesse concorrência, e nos que nao houvessem seria mais lucrativo o que permitiria uma maior expansao da produção.

O mesmo raciocínio se aplica a questao da selic e o lucro dos bancos.

Quanto ao mal incerto eu me refiria à causa apontada para o aumento da inflação, um suposto superaquecimento da economia em que o nivel de oferta nao acompanha o crescimento da demanda. O aumento do juros viria para controlar a pressao da demanda certo?

Assim como o ministro Guido Mantega, varios economistas descordam dessa necessidade de aumento nos juros. Vou colar aqui um trecho da reportagem de "Carta Capital":

"Em entrevistas recentes, Mantega tem atribuído a alta da inflação a fatores temporários. O excesso de chuvas no início do ano seria o responsável pela alta de preço dos alimentos, enquanto o álcool puxou para cima o custo dos combustíveis. O ministro acrescentou que o desmonte de algumas das políticas adotadas para estimular a economia durante a crise, como o desconto no IPI de automóveis e eletrodomésticos da linha branca, também tenderiam a contribuir para domar a inflação nos próximos meses.
(...)
Contra a tese de que a oferta não acompanha o ritmo do consumo, pesa também o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) das empresas brasileiras. O índice, medido pela FGV, atingiu 84,3% em março – ainda abaixo dos 85,1% medidos no início da crise, em outubro de 2009. A Fiesp acrescentou uma dose de polêmica à discussão ao divulgar, na terça 27, um novo indicador, o Nível de Utilização da Produção Plena (Nupp). A diferença fundamental entre os dois dados, segundo o diretor do Departamento de Economia da entidade, Paulo Francini, é que o Nupp leva em conta a possibilidade de contratar mais funcionários, reativar máquinas e adotar turnos extras para aumentar o ritmo de trabalho.

Consideradas apenas as empresas paulistas, o uso de capacidade, medido pelo Nuci, fechou abril em 79,23%, cerca de 10 pontos porcentuais acima do índice verificado com os critérios do Nupp, que considera o pleno potencial produtivo da indústria com a infraestrutura física atual (69,20%). “O BC está errado quando interpreta o Nuci como um limite à produção”, afirma Francini. “Não existe nenhum indício de que esteja faltando produto no mercado.” "

Rogerio Ferreira disse...

Não interessa muito o que o Mantega diz, pois eu cito aqui vários economistas muito mais robustos que o Mantega e eles dizem que deveríamos sim elevar os juros, antes mesmo do que o Bacen fez recentemente.

Eu não quero negar tese nenhuma. Mas acho estranho alguém dizer que o câmbio prejudica as exportações, se elas aumentaram. Os fatos dizem isto. E não adianta dizer muita coisa, ninguém vai pagar mais caro no produto brasileiro se pode comprar de outro país mais barato.

Não tem Itamaraty que que anule ao lei do menor preço.

Interferir no câmbio com uma desvalorização é encarecer a vida dos consumidores para beneficiar algumas empresas que não chegam a 15% do PIB. Ou seja, eu prejudico um conjunto enorme de pessoas para proteger os interesses de algumas empresas.

E se apoiar em análise do Mantega? O que ele quer é negar o efeito do gasto público sobre a inflação. Aí, para ele, vale qualquer coisa.

Rogerio Ferreira disse...

Só para dar um foco na discussão, tenho duas perguntas.

O que você acha que deve ser feito com o câmbio?

E sobre a Selic, o que você acha que deveria ser feito para conter a inflação?

Fernando Cinelli disse...

Me desculpe Pepe, mas concordo com o Rogério. Creditar as palavras do Ministro, principalmente num ano eleitoral, deve ser algo a ser feito com certo ceticismo. Bom, a taxa de juros elevado é algo bom? não. Porém, por medidas da conjectura, o mal é nescessário. Negar que a oferta não esta acompanhando o ritmo de crescimento da demanda, é ilusório. Os dados demonstram o contrário. O governo, como citado por Rogério nega o impacto de seus gastos no conjunto de demanda que pressionam os preços para cima, então, uma das poucas instituições sóbrias deste país toma as medidas que são cabidas.

O Mantega nega problemas estruturais que pressionam a alta inflacionária, com exemplos de trechos que você mesmo colocou: " O excesso de chuvas no início do ano seria o responsável pela alta de preço dos alimentos, enquanto o álcool puxou para cima o custo dos combustíveis. O ministro acrescentou que o desmonte de algumas das políticas adotadas para estimular a economia durante a crise, como o desconto no IPI de automóveis e eletrodomésticos da linha branca, também tenderiam a contribuir para domar a inflação nos próximos meses."

Primeiro, por que o governo abarrota os ruralistas de subsídios que diminuem nossa produtividade e, também, a concorrência no setor? Corta-los, além de reduzir os gastos do governo, com pequenas medidas de diminuição da burocracia permitiria o ingresso de novos produtores e, por conseguinte, aumento da produção e redução dos preços dos alimentos.

Segundo, a Petobras detém 100% do mercado de refino de petróleo e 93% da produção. por que? o Estado concede monopólio para si, e aumenta a pressão dos preços para cima. Ta na hora de mudar essa situação. O combustível é um insumo muito importante em todo o processo produtivo, sendo seu impacto enorme na alta dos preços dos bens.

Terceiro, o aumento da demanda por bens duráveis ocorreu devido ao maior acesso da população ao crédito, e não, principalmente, devido a redução do IPI. Não é um movimento sazional, e caminhamos para um novo recorde de vendas desses produtos, mesmo com a volta dessas rídiculas taxações.

O governo não coloca essas questões em pauta. Por que será?

Bom, o que queria demonstrar é que o Rogério foi muito feliz com as demonstrações gráficas que demonstram o quão equivocadas estão as falácias do nosso Governo, que aumentar a produtividade deve ser e foi o principal fator a ser considerado que desencadeou no aumento dos lucros bancários e das exportações brasileiras.