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sexta-feira, 14 de maio de 2010

A Tragédia dos Comuns

Sempre que vejo alguém jogando lixo pela janela do carro, ou conversando em voz alta no cinema, me lembro do artigo “A Tragédia dos Comuns”, escrito pelo biólogo americano Garrett Hardin e publicado em 1968 na revista Science. O artigo descreve o dilema que os seres humanos enfrentam sempre que têm que decidir entre o benefício individual e o prejuízo coletivo.

Vou apresentar o exemplo usado por Hardin em seu artigo original. Imagine um pasto (ele era biólogo) de uso comum (daí o título), onde vários fazendeiros possam deixar suas vacas pastando. Qual o dilema de cada fazendeiro? Quanto mais vacas colocar no pasto, maior seu benefício individual, porém maior o prejuízo coletivo, afinal, o pasto é um recurso esgotável. Do ponto de vista individual, e de curto prazo, a ação pode ser vantajosa. Porém, se todos agirem assim, egoisticamente, o pasto ficará superlotado e se esgotará rapidamente. Eis a Tragédia dos Comuns!

Hardin concluiu que este problema “não tem solução técnica, pois requer uma extensão fundamental na moralidade”. Em palavras modernas Hardin clamou por consciência coletiva. O que em economia chamamos de altruísmo. O ser humano incorporando o próximo em suas preferências individuais. Talvez um dia chegaremos lá.

Enquanto não chegarmos, podemos contar com a teoria econômica. No exemplo acima, um modo de impedir o uso devastador do pasto seria dividi-lo entre os fazendeiros e garantir o direito de propriedade privada. Deste modo, o fazendeiro pensaria duas vezes antes de colocar uma vaca adicional em seu pasto, pois não só o benefício como também o prejuízo seriam exclusivamente seus. Com essa medida conseguiríamos atingir o objetivo principal que é evitar o esgotamento do recurso natural.

Outro modo de evitar o esgotamento do recurso natural seria emitindo “créditos de pasto”. Como assim? O possuidor desse crédito teria o direito de colocar uma vaca para pastar e consumir parte do recurso natural. Aqueles que possuíssem mais créditos do que vacas poderiam vendê-los para quem estivesse em situação contrária. Teríamos, então, um mercado secundário – com o preço ajustando oferta e demanda. Caberia ao emissor dos créditos (um governo, por exemplo) regular este novo mercado. Como? Emitindo uma quantidade sustentável de créditos, ou seja, que não destruísse o recurso natural. Qualquer semelhança com os atuais créditos de carbono não é mera coincidência. É fruto da teoria da regulação econômica.

Mas o que tudo isso tem a ver com jogar lixo na rua, ou conversar em voz alta no cinema? Tudo! Nestes dois casos há indivíduos tomando decisões egoístas em detrimento do coletivo. No cinema, por exemplo, a pessoa que conversa em voz alta está consumindo o silêncio, um recurso obviamente esgotável (assim como nossa paciência). E se todos decidirem conversar ao mesmo tempo, ignorando o prejuízo social, todos ficarão piores. Todos serão personagens de uma tragédia. A Tragédia dos Comuns.

3 comentários:

Anônimo disse...

Bem legal o texto! Valeu prof.

Nelsu disse...

Silêncio no cinema ou silêncio em sala de aula...huahua = D

Anônimo disse...

O que acham da Elinor Ostrom, que ganhou o Nobel recentemente?